Impressões sobre Forbes, em Miami 13/06/2013

Por Renata Tinoco-Stephens

Os Estados Unidos possuem espaço para os vários aplicativos da psicanálise. Mas é necessário um sotaque próprio

Ao abrir a conversação “Lacanian Women. Today’s Women” no Miami Symposium of Psychoanalysis, Jorge Forbes escolhe ilustrar sua fala com trechos de pensadores como Buddah, Voltaire, Oscar Wilde, entre outros, trazendo o que eles escreveram sobre as mulheres. Fica clara a imagem degradada com a qual as mulheres têm tido que se haver, há mais de dois mil anos, pela posição que lhes foi marcada desde o pecado original.

As citações, em princípio, parecem tensionar os poros e fazer grunhir as feministas e demais mulheres ali presentes. Forbes consegue passar do tom trágico da cena da maldita mordida na maçã para a comédia, retirando o peso das palavras dos grandes nomes, fazendo-os passar por ordinários homens tolos, e estabelecendo um ritmo do humor, sem deixar de tratar o assunto com a devida seriedade.

“Quanto desaforo! Desaforo no sentido de “fora de lugar”. A mulher é marcada por estar fora do lugar fálico na civilização. Enquanto os homens adoram os uniformes, as fardas, as batinas e os elogios comparados, as mulheres preferem a sua singularidade”. Deixa a dica para os 300 participantes que nunca ousem elogiar uma mulher comparando-as com outra: receita certa para um desastre!

Forbes prova a contemporaneidade da obra de Jacques Lacan quando responde a pergunta: O que Lacan sabia sobre as mulheres? com as palavras do próprio mestre. “A mulher não existe”. Frase que marca a mudança de paradigma do laço social, e que explica que no mundo da globalização, não mais Pai-orientado, a mulher de hoje é a mulher lacaniana.

Ao final, na sessão de encerramento Forbes levanta a questão: Há espaço para a psicanálise lacaniana e como estabelecê-la nos Estados Unidos?

Ele lembra que a tentativa de Freud foi há muitos, muitos anos, e nos direciona ao desapego do passado. Com otimismo diz que no país, berço do jazz, onde há lugar para arquitetura de Frank Gehry, a criatividade de Ron Pompei, a genialidade de Steve Jobs e, principalmente, em um país que escolheu arriscar-se na invenção do impossível com Obama, há sim, um lugar para os vários aplicativos da psicanálise.

Alerta que a psicanálise dos Estados Unidos não deve ter sotaque estrangeiro, mas sim um sotaque próprio, norte-americano.

Sem catequisar, sem representar um ideal, mas como quem legitima a invenção de uma forma de fazer, Forbes abençoa o movimento psicanalítico nos Estados Unidos com as palavras da canção de Irving Berlin: “God Bless America”.

 

Renata Tinoco-Stephens é psicanalista e correspondente da Delegação Geral MS/MT – EBP. Mora em Minneapolis, nos Estados Unidos, e escreve suas impressões sobre a participação de Jorge Forbes no recente Simpósio realizado em Miami: “O que Lacan sabia sobre as Mulheres”, entre os dias 31 de maio e 2 de junho