Por Claudia Riolfi
Pesquisas científicas correlacionam o orgasmo feminino com o tamanho do atributo de seu parceiro
A suposta preferência feminina pelos homens com genitais avantajados seria gerada por meros estereótipos culturais? Não para Carmita Abdo, articulista do Jornal O Globo. Para ela – que acredita em duendes, digo, na existência em um denominador comum de preferências sexuais – essa tendência poderia ser explicada por meio de pesquisas científicas que correlacionam o orgasmo feminino com o tamanho do atributo de seu parceiro. Para Carmita, é inequívoco que o sonho de consumo de todas as mulheres são os congoleses, lugar onde, de acordo com outras pesquisas científicas, de noite é difícil diferenciar um homem de um tripé. Será?
No artigo Maior é sempre melhor?, Abdo expôs uma teoria darwinista da sexualidade feminina segundo a qual os penisudos serão o futuro do homem. Isso porque a evolução masculina estaria conduzindo nossa espécie para os pênis maiores. Que? Como assim? A explicação para o encompridamento da verga é para lá de determinista. Os bem-dotados seriam os preferidos pelas mulheres como parceiros sexuais por causa de sua maior aptidão para a penetração, quer dizer, para a perpetuação dos humanos, correlacionada com a maior chance de fecundação quando elas experimentam orgasmos vaginais.
É difícil não imaginar Jacques Lacan se irritando ao ler esse festival de barbaridades. Esse homem, que gastou muito tempo de sua vida explicando a impossibilidade de encontrar um padrão para o gozo feminino, provavelmente não só teria considerado o resultado dessas pesquisas a pior expressão do discurso universitário como, também, um desserviço para o laço social. Qual a vantagem de encorajar uma legião de histéricas a gastar sua vida comparando os caraculi em busca da comprovação da existência do falo? O que elas ganhariam ao continuar separando o corpo do amante do ser do amado? E os homens? Vale mesmo a pena induzi-los a se manter na miragem de que, ali na esquina, existe alguém cuja picadura vai produzir sensações mais intensas das que as geradas pelos seus pobres mosquitinhos?
Analogamente, é difícil não imaginar mulheres inteligentes se comprazendo com a fantasia de fazer algumas perguntinhas impertinentes para a sexóloga. Algumas: 1) É necessário ter filhos com todos os parceiros de cópula?; 2) Para selecionar os namorados, a primeira coisa que uma moça deve fazer é pedir para eles baixarem as calças?; 3) As mulheres que querem engravidar precisam fazê-lo ao mesmo tempo em que obtêm um orgasmo?; 4) As mulheres que gostam de penetrações profundas precisam também gostar de ficar imóveis esperando que elas se devam apenas ao tamanho do pênis?; e 5) Essas mesmas mulheres não podem, mesmo, estudar modos criativos de transar a partir, por exemplo, de uma versão do Kama Sutra?
Que coisa triste é uma mulher sem imaginação. Não só reduz consideravelmente as possibilidades de sua vida como, no fundo, no fundo, fica desconfiada de que, na casa da vizinha, a espécie é mais evoluída. Talvez fosse mais interessante deixar essas pesquisas bizarras para lá e adotar o lema das fadas: não importa o tamanho da vara, mas, sim, a mágica que ela faz.
Claudia Riolfi é Professora Livre-docente da Universidade de São Paulo. Cursou pós-doutorado em Linguística na Université Paris 8 Vincennes-Saint-Denis. Psicanalista, é Diretora Geral do IPLA.