Farmacogenética e o caso a caso 11/04/2013

Por Italo Venturelli

Assim como na psicanálise, as particularidades de cada indivíduo fazem diferença em diagnósticos que incluem a variabilidade genética

A farmacogenética é a ciência que estuda a variabilidade genética dos indivíduos com relação a drogas específicas. Indivíduos podem reagir diferentemente ao mesmo tipo de medicamento, dependendo de fatores como etnia ou variações genéticas específicas. As respostas às drogas são influenciadas por múltiplos fatores, incluindo-se estado de saúde, influências ambientais e características genéticas, com polimorfismos genéticos em enzimas metabolizadoras, transportadores ou receptores que contribuem para as variações nas respostas a medicamentos.

Como isso funciona, na prática? Vamos pegar, por exemplo, irmãos gêmeos que usam medicações para a epilepsia, ambos com crises convulsivas tônico-clônicas generalizadas, com as mesmas características no eletroencefalograma, mas que não respondem igualmente às medicações. No caso em um paciente, a carbamazepina resultou no controle das crises. Em seu irmão, foi necessário o uso de lamotrigina e divalproato de sódio. É em casos assim que a farmacogenética pode contribuir.

Sabe-se que, nos Estados Unidos, mais de dois milhões de hospitalizações e 100 mil mortes por ano são decorrentes de reações adversas a medicamentos. Aproximadamente 4% de todos os novos medicamentos lançados são retirados do mercado devido a reações adversas, configurando uma situação desastrosa para a indústria farmacêutica, que gasta milhões de dólares para desenvolver um novo produto.

Embora a individualização terapêutica ainda permaneça como um desafio para o futuro, a farmacogenética poderá ser uma ferramenta útil no desenvolvimento de novos medicamentos pelas indústrias farmacêuticas. Pode tornar-se um critério importantíssimo para o médico clínico, além dos exames já disponíveis, para melhor conhecer o perfil de seu paciente, podendo individualizar medicação e dose, inclusive em subgrupos de pacientes geneticamente distintos.

Tal tendência vem ao encontro do que na psicanálise é o princípio do “caso a caso”: poder privilegiar o que cada pessoa tem de mais específico, mais singular.