Estamos todos estressados? 22/06/2017

Por Elisa Padovan Camillo Andreotti

O termo popularizou-se e é usado para caracterizar diversas situações da vida cotidiana. E então, estamos todos estressados? O que fazer?

Hoje em dia falar de estresse é algo bastante frequente. O termo popularizou-se e é usado para caracterizar diversas situações da vida cotidiana. Um dia cheio no trabalho, as cobranças, uma noite mal dormida, a falta de tempo, todas essas situações são chamadas popularmente de estresse. E então, estamos todos estressados? O que fazer?

Basta digitar a palavra ‘estresse’ no Google e impressiona a quantidade de Informações que podemos encontrar. A maioria dos textos falam sobre as causas e o que deveríamos fazer para evitá-lo. Ao longo do texto irei compartilhar a maneira como entendo o estresse e como conduzo os casos no consultório.

A primeira dificuldade quando se fala sobre estresse é conceituá-lo de maneira científica. O tema é bastante abrangente e na literatura há divergências significativas quanto a sua definição. Os próprios autores que se propuseram a estudá-lo, reconhecem a dificuldade de uma definição unânime do conceito.

Um dos primeiros autores a falar sobre estresse foi Selye em 1936, quando criou a teoria da Síndrome Geral de Adaptação. Segundo ele, estresse seria uma reação do organismo frente a agentes estressores externos que provocaria um aumento do nível de exigência aos seus “recursos”, afetando a sua capacidade de equilíbrio interno. Com o continuar deste estado, o organismo entraria em falência adaptativa e adoeceria. Depois de Selye, muitos outros autores desenvolveram suas hipóteses na conceituação do estresse e até hoje, encontramos definições diversas.

Apesar da dificuldade do consenso sobre o tema, é preciso escolher algum conceito, e particularmente, concordo com Rodrigues (1997), quando ele define estresse como: “uma relação particular entre uma pessoa, seu ambiente e as circunstâncias às quais está submetida, que é avaliada pela pessoa como uma ameaça ou algo que exige dela mais que suas próprias habilidades ou recursos” (op. cit., p.24). Além disso, o autor divide os estímulos estressores provenientes tanto do meio interno (fantasias, emoções, pensamentos e sentimentos, como medo, alegria, tristeza e angústia), quanto do meio externo (estímulos de origem física ou social, como o trabalho, por exemplo). Escolho essa definição porque valoriza o singular, ou seja, ninguém melhor do que a própria pessoa para dizer sobre o que sente e de que forma vivencia uma determinada situação. Cabe ao sujeito definir qual é o seu limiar para suportar um suposto estressor e quais condições tem para lidar com isso. Não acredito que podemos listar de forma empírica, quais são as causas de estresse e qual seria a maneira mais adequada para preveni-lo.

No primeiro atendimento, acredito na importância de ouvir o paciente, perceber qual meio está inserido e o que é considerado por ele como estressor. Durante a entrevista psiquiátrica, diversos aspectos devem ser contextualizados, afim de captar, mesmo que a princípio de forma mais superficial, a essência do paciente e a maneira como ele enxerga o mundo e como lida com os diversos estímulos. Feito isso, também é importante diferenciar um estado de estresse de outras condições, tais como depressão, dependência química, transtorno de ansiedade generalizada, dentre outras, isso , muitas vezes, o paciente começa falando de um suposto estresse, mas ao final da entrevista, percebemos que há além disso, um quadro depressivo concomitante, por exemplo. Nesse caso, a abordagem e tratamento serão conduzidos de forma diferente.

Em relação ao tratamento do estresse, será que podemos tratá-lo com medicações? O que fazer? Bem, se adoto o conceito de que estresse está relacionado com a forma singular que o sujeito responde a um determinado estímulo, sendo considerado como algo que exige mais do que ele pode sustentar, também considero que o indivíduo é o único capaz de buscar a solução para sua condição. Por exemplo; quando um paciente se queixa de exaustão no trabalho, pois não dá conta de tanta “pressão”, como poderia eu encontrar uma forma de fazê-lo suportar tal situação? Com certeza, nenhum antidepressivo o faria mais forte ou disposto. Por isso, não há como fugir das escolhas que fazemos. Pode ser que no início o trabalho não fosse tão “pesado”, mas a escolha em permanecer no trabalho, que o deixa na condição de estressado, é da pessoa. E quando falamos sobre responsabilidade e escolhas, há quem diga: “Mas eu não posso sair do meu emprego, como vou pagar as contas no final do mês?”

Jorge Forbes em seu texto – “Não tive tempo” (2007) diz: ” O estresse é a covardia da escolha, não há escolha sem risco.” Há quem queira permanecer com a escolha do trabalho estressante, mas há quem escolha correr o risco e sair da cena que lhe causa estresse. A despeito disso, não acredito nas receitas que sugerem soluções prontas para o tratamento do estresse ou mesmo para sua prevenção. Se alguém está estressado e não deseja mais assim ficar, será preciso se reinventar, fazer uma aposta e estar disposto a “correr o risco” das novas escolhas, não há garantias, mas talvez, a análise possibilite encontrar uma saída singular para aquilo que o faz um “estressado”.  

Elisa Padovan Camillo Andreotti é psiquiatra formada pelo Hospital do Servidor Público Estadual e membro da equipe do Instituto da Psicanálise Lacaniana – IPLA.

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