Por Claudia Riolfi
O Sistema de Seleção Unificada é burocracia ou questão de honra? Depende da posição do candidato, ao decidir se quer o que deseja
Depois de dois anos de testes, o Governo Federal tornou mais psicanalítico o SiSU (Sistema de Seleção Unificada), exame que, desde 2009, é a porta de entrada de quase 5 milhões de pessoaspara as Universidades que desistiram do vestibular e adotaram oExame Nacional do Ensino Médio (Enem).
O que classificamos como mais próximo da psicanálise? O fato de que, agora, o candidato é forçado na direção da responsabilidade psicanalítica, que estava longe da formulação inicial do SiSU. A partir da nova regra,nãose pode mais alterar a inscrição depois da primeira chamada. Antes desta medida – que a muitos pareceu autoritária – o SiSU estava virando uma espécie de roleta russa universitária.
O depoimento de Gabrielle Schneider, de 22 anos, publicado pela seção de educação do IG, ilustra como era. A moça queria estudar Engenharia Agrícola, mas, como estava longe da nota de corte na instituição próxima de sua de casa, tentou outra universidade sem calcular que acabaria desistindo por conta da distância.“Ninguém deveria fazer como eu fiz”, concluiu.
Está certa. Antes, via-se um rebaixamento do desejo indo de mãos dadas com o da nota de corte, ocorrido após o preenchimento dos melhores cursos. Antes da medida restritiva, a pessoa podia decidir se continuava com sua opção ou se a abandonava em nome de outra. Como a seleção é nacional, e boa parte dos candidatos concorre, simultaneamente, em outros vestibulares, as notas de corte variam após um horário cabalístico na madrugada.
O aluno do troca-troca é o homem flexível, pronto às circustâncias? Não nos parece. Para nós, ele parecia certos pacientes da famosa análise interminável freudiana: vivia sem consequência, pulando de galho em galho.Cedia à burocracia. Deixava de escolher para ser escolhido.Fazia o que Lacan considerava o maior dos erros: ceder de seu desejo. Coincidência ou não, bom ver os efeitos da Clínica do Real no mundo.