Detalhes 23/04/2014

Por Italo Venturelli

Em uma cirurgia, o detalhe e o máximo cuidado fazem a diferença entre a vida e a morte

“Detalhes tão pequenos de nós dois”, sinaliza Roberto Carlos num de seus versos. Está certo o poeta. O ser humano adora detalhes. Afinal, é um pequeno detalhe em seu jeito de ser, seu estilo singular que, para a psicanálise, o faz inconfundível.

Somos tomados todos os dias pelos detalhes, quer em nosso corpo, quer em nossos pensamentos, quer nos objetos que usamos e que nos cercam. Um pequeno detalhe muda o mundo. Uma combinação de enzimas pode mudar o ser de um corpo. Em uma cirurgia, o detalhe e o máximo cuidado fazem a diferença entre a vida e a morte.

Um detalhe no olhar pode atrair ou separar um par. Há um piscar de olho decisivo entre encontrar o amor ou se perder na busca. Um abraço pode dar um afago ou transmitir uma mensagem de amor e ternura. Uma pequena marca no rosto pode revelar o charme ou ser uma tortura para quem a carrega.

Depende do timbre de uma voz o sentir-se chamado ou rechaçado. O tom num discurso é capaz de evocar a razão ou inflamar de paixão. Entre uma bola que quase entra na rede, mas bate na trave, e outra que faz um gol há uma fração de milímetros. Em um lance se faz um campeão ou apenas um vice. Um pequeno significante muda tudo.

Uma luz piscando no painel do carro pode servir para que, por um instante, mudemos completamente nosso humor. Enquanto não solucionamos pequenos detalhes, parece que nosso pensamento trava. Uma falta de sinal no celular e cai o mundo. São detalhes das frenéticas mudanças diárias de ideais e posições a serem tomadas na contemporaneidade.

Na política, um voto pode ser o detalhe que elege e modifica ideias, hábitos, práticas. Uma informação pode nos fazer decidir qual lado escolher, num mundo, onde tudo acontece em todos os lugares e recantos ao mesmo tempo. Detalhes, por vezes dramáticos, vividos alhures, podem não mudar nossa vida, mas nos tocam, ressoam.

Assim, somos convidados a surfar sobre as ondas de nosso mundo com a prancha do amor. Somos levados pelos ventos do desejo a inventar, com a responsabilidade que nossas invenções nos exigem, novas rotas, navegar, sem, no entanto, esquecer-nos na hora de seguir a bússola dada pelos pés e ir adiante. Eis os detalhes que fazem nosso jeito único de ser.

Italo Venturelli é neurocirurgião, psicanalista e Diretor do Hospital Regional do Sul de Minas Gerais