De volta às ruas 25/02/2016

Por João Francisco Rüdiger Verona

Há um vírus social que implica a saída do casulo. De volta às ruas, estamos nos livrando,  pouco a pouco, desse verdadeiro feitiço jogado sobre nós que se chama medo

A rua. Que lugar estranho! Dela somos todos proprietários. Mas, consequentemente, ninguém é seu dono (ou, ao menos, deveria ser).  Há um receio das pessoas para utilizarem as ruas, o espaço público. Vivemos numa  sociedade  onde impera o medo.  No Brasil, a maioria das pessoas acham temíveis os espaços públicos. Tem, nas ultimas décadas,  se trancado  atrás das portas e janelas de suas casas. 

Escondidos em nossos  escritórios, casas e apartamentos,  com direito a ar condicionado e computadores  antenados na internet, andamos vivendo nossa realidade  pelo prisma da realidade virtual. Pensamos, dessa maneira,  estar protegidos dos males da  realidade da vida  em sociedade.  Na maioria das vezes, estes males são imaginários.  Têm sua origem nos   programas policiais na televisão  focados em espremer  a última gota de sangue de cada tragédia do cotidiano  em cena. Compartilhar a calçada  tornou-se  na fantasia do telespectador mais que um perigo. Ir às ruas é praticamente equivalente à certeza de uma eminente tragédia.  A alternativa que resta é o mergulho no  sofá, no mundo da internet e no do videogame. 

Mas, é preciso também reconhecer que o mundo televisivo e  virtual não é o vilão da história. O noticiário é uma importante fonte de informação. A internet é uma ferramenta. Ainda bem que estamos descobrindo como utilizá-la  para combinar  atividades ao ar livre, na rua.  Com ela dá para mobilizar as redes sociais para combinar caminhadas,  manifestações,  happy hours  e apresentações artísticas ao ar livre.

O cárcere físico  mental por causa do medo de sair às ruas  parece estar com seus dias contados.  As pessoas  têm voltado a frequentar os espaços públicos como não se via há muito tempo. Têm se dado conta que a rua e as praças não são lugares  a se temer. Do contrário, são lugares  para juntos se divertir. A vontade de se encontrar nas ruas tem se tornado um  verdadeiro viral.  No último carnaval, um milhão e meio de pessoas e mais de 300 blocos ocuparam as ruas dos bairros e do centro de São Paulo. A festa atraiu  paulistanos que preferiam ficar na cidade, bem como visitantes  de outras cidades e regiões  do Brasil e turistas estrangeiros.

Políticas públicas têm incentivado para que o movimento da ocupação dos espaços públicos se torne  cada vez mais forte. Exemplo disso é o fechamento da  Avenida Paulista para automóveis  aos domingos. Atrai uma multidão para andar de bicicleta, de patins, de skate ou simplesmente a pé. Convida para curtir suas livrarias, museus, parques e botecos, para tomar conta da rua.

Há um  vírus social  que  implica  a saída do casulo. Cansamos do isolamento, de protestar no facebook. Enjoamos da satisfação momentânea de passar de fase nos  intermináveis joguinhos eletrônicos  e de viver uma vida de faz de conta on line,   onde ninguém é quem aparenta ser.  Já  fomos às ruas protestar. Agora descobrimos que existem os outros com quem podemos nos encontrar e experimentar, como quando éramos crianças,  que a rua serve também para a diversão. De volta às ruas, estamos nos livrando, pouco a pouco, desse verdadeiro feitiço jogado sobre nós que se chama medo. 

João Francisco Rüdiger Verona é designer de games e sócio da empresa start up Ruve Game Studio em Limeira, SP 

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