Por João Francisco Rüdiger Verona
Há um vírus social que implica a saída do casulo. De volta às ruas, estamos nos livrando, pouco a pouco, desse verdadeiro feitiço jogado sobre nós que se chama medo
A rua. Que lugar estranho! Dela somos todos proprietários. Mas, consequentemente, ninguém é seu dono (ou, ao menos, deveria ser). Há um receio das pessoas para utilizarem as ruas, o espaço público. Vivemos numa sociedade onde impera o medo. No Brasil, a maioria das pessoas acham temíveis os espaços públicos. Tem, nas ultimas décadas, se trancado atrás das portas e janelas de suas casas.
Escondidos em nossos escritórios, casas e apartamentos, com direito a ar condicionado e computadores antenados na internet, andamos vivendo nossa realidade pelo prisma da realidade virtual. Pensamos, dessa maneira, estar protegidos dos males da realidade da vida em sociedade. Na maioria das vezes, estes males são imaginários. Têm sua origem nos programas policiais na televisão focados em espremer a última gota de sangue de cada tragédia do cotidiano em cena. Compartilhar a calçada tornou-se na fantasia do telespectador mais que um perigo. Ir às ruas é praticamente equivalente à certeza de uma eminente tragédia. A alternativa que resta é o mergulho no sofá, no mundo da internet e no do videogame.
Mas, é preciso também reconhecer que o mundo televisivo e virtual não é o vilão da história. O noticiário é uma importante fonte de informação. A internet é uma ferramenta. Ainda bem que estamos descobrindo como utilizá-la para combinar atividades ao ar livre, na rua. Com ela dá para mobilizar as redes sociais para combinar caminhadas, manifestações, happy hours e apresentações artísticas ao ar livre.
O cárcere físico mental por causa do medo de sair às ruas parece estar com seus dias contados. As pessoas têm voltado a frequentar os espaços públicos como não se via há muito tempo. Têm se dado conta que a rua e as praças não são lugares a se temer. Do contrário, são lugares para juntos se divertir. A vontade de se encontrar nas ruas tem se tornado um verdadeiro viral. No último carnaval, um milhão e meio de pessoas e mais de 300 blocos ocuparam as ruas dos bairros e do centro de São Paulo. A festa atraiu paulistanos que preferiam ficar na cidade, bem como visitantes de outras cidades e regiões do Brasil e turistas estrangeiros.
Políticas públicas têm incentivado para que o movimento da ocupação dos espaços públicos se torne cada vez mais forte. Exemplo disso é o fechamento da Avenida Paulista para automóveis aos domingos. Atrai uma multidão para andar de bicicleta, de patins, de skate ou simplesmente a pé. Convida para curtir suas livrarias, museus, parques e botecos, para tomar conta da rua.
Há um vírus social que implica a saída do casulo. Cansamos do isolamento, de protestar no facebook. Enjoamos da satisfação momentânea de passar de fase nos intermináveis joguinhos eletrônicos e de viver uma vida de faz de conta on line, onde ninguém é quem aparenta ser. Já fomos às ruas protestar. Agora descobrimos que existem os outros com quem podemos nos encontrar e experimentar, como quando éramos crianças, que a rua serve também para a diversão. De volta às ruas, estamos nos livrando, pouco a pouco, desse verdadeiro feitiço jogado sobre nós que se chama medo.
João Francisco Rüdiger Verona é designer de games e sócio da empresa start up Ruve Game Studio em Limeira, SP
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