Da paixão pelo esporte, do encontro e da felicidade 23/04/2014

Por Beatriz Frias

A medalha simboliza a conquista e a lembrança do dia que conheci um fiel jardineiro. Se a felicidade tem a ver com o encontro e a surpresa, essa corrida me confirmou.

O que é o que é? Não tem nome justo nem certo, mas é o que todos não cansam de chamar. Não possui fórmula, nem previsões, mas move o ser humano e é a sua maior busca. Está onde a razão escapa e os “números não batem”. Não se repete, nem necessita de explicações. Quem sente, não duvida, nem se engana.

“Felicidade não é bem que se mereça”. Quando li o texto de Jorge Forbes assim intitulado, especialmente na passagem em que ele cita Giorgio Agamben: “O que podemos alcançar por nossos méritos e esforços não pode nos tornar realmente felizes. Só a magia pode fazê-lo”, lembrei-me de uma experiência que vivi que vai ao encontro dessa tese.

Participava de uma corrida de 10 km. Foi dada a largada! Sem GPS e tampouco sem saber minha média de velocidade, fui avançando nos primeiros quilômetros. Fazia uma avaliação do meu desempenho somente pelo tempo que marcava no cronômetro. Não tinha ideia clara de como estava minha colocação e o restante das condições do trecho pela frente. Próximo ao quilômetro cinco avistei um corredor, daqueles que você nota de longe que é um atleta. Ao alcançá-lo, perguntei se sabia qual o ritmo que estava correndo, pois, pelos cálculos do meu relógio, eu imaginava que não iria terminar bem a prova. Disse-me que não sabia e, curiosamente, a partir desse momento, passou a correr do meu lado.

Falei várias vezes para o meu mais novo parceiro de prova, eu nem sabia o seu nome, tinha o conhecido naquela circunstância, que ele poderia me deixar e ir à frente. Era óbvio que ele tinha condições físicas e resistência para ir bem mais rápido. Entretanto, ele continuou correndo ao meu lado, acompanhando-me, incentivando-me, desafiando-me e foi assim até a linha de chegada. Resultado: consegui fechar os 10 km com meu melhor tempo, superei minhas expectativas e conquistei o primeiro lugar em minha categoria.

Após recuperar o fôlego, voltei-me para o meu mais novo amigo e perguntei: “por que você, sem sequer me conhecer, me acompanhou todo o tempo, sendo que sozinho iria terminar a prova muito antes”? Ele respondeu: “Porque eu vi em você uma corredora e eu queria te ajudar a ganhar!” Depois disso, trocamos ideias. Lourival me contou que trabalhava com jardinagem e corria desde menino. Tinha começado a correr aos oito anos de idade, quando morava na praia. Ele convidou-me para outras corridas.

No pódio, uma emoção sem palavras. A medalha simboliza a conquista e a lembrança do dia que conheci um fiel jardineiro. Se a felicidade tem a ver com o encontro e a surpresa, essa corrida me confirmou. Um encontro incrível e inesperado. Sem planejamento, sem explicações. Uma aposta sem garantias, selada pela paixão e afinidades que unem esportistas.

Beatriz Frias é administradora de empresas, amante do esporte, articulista da revista Arraso, do Jornal de Piracicaba, e publica em seu blog: www.beatrizfrias.com