Corpo, que corpo? 30/07/2015

Por Alain Mouzat

A doença que marca meu corpo pode vir se juntar a esses sintomas que prezo tanto, porque sou assim

As notícias continuam oferecendo exemplos da dificuldade do ser humano de lidar com seu próprio corpo. O será com a imagem dele?  O rapaz que morreu de trombose pulmonar por causa de uma aplicação de hidrogel no pênis, era um adepto da boa forma, orgulhoso de seu corpo, frequentador de academia. Outra notícia, vinda das redes sociais, apresentada como uma derrocada dos padrões de magreza: uma “pesquisa” de universidade do Texas, elegeu uma gordinha (mais de 70 kg por 1,60 m) como mulher mais sexy do mundo. Dizem “eles” (o artigo não cita explicitamente os autores da pesquisa) que ela corresponderia às medidas “ideais” (90x63x91). Evidentemente, depois de promulgar padrões que já foram conhecidos no Brasil como “ mulher violão”, diz o artigo: “o essencial é se sentir bem no seu corpo”.

“Bem no seu corpo” não diz respeito a mensurações.

Ter um corpo não é tão natural ao homem. O velho ideal do “mens sana in corpore sano”, receita que não é de hoje, não resolve, por vezes tropeça e, se formos à rua, poderemos considerá-lo caso raro.   Habitar nosso corpo não é tarefa fácil, nos acostumamos a ele, o maltratamos, aceitamos suas deficiências e por vezes mesmo acalentamos sua degradação pela doença.

Como pode?

Da mesma forma que acabo claudicando por causa de uma unha encravada, e que fico me acostumando com a dor que de repente faz parte de mim, o sintoma se torna a coisa mais minha, a minha solução muito pessoal ao meu mal-estar.  A doença que marca meu corpo pode vir se juntar a esses sintomas que prezo tanto, porque sou assim.

Alain Mouzat é professor da Universidade de São Paulo, doutor em linguística, e psicanalista membro do Instituto da Psicanálise Lacaniana