Como somos vistos? 29/11/2012

Por Alain Mouzat

Nem alienação burguesa, nem cinismo desencanado. Entusiasmo pela vida e pelo desejo de criação pode ajudar os meios de comunicação estrangeiros a lançar um novo olhar sobre a capital paulista

“Brasil, terra dos contrastes”, dizia um francês que, com todas suas dificuldades e incompreensões, amava o Brasil. Muitos anos depois, essa ainda é a tônica de várias reportagens e artigos que povoam o noticiário sobre o país em diversos meios de comunicação no estrangeiro. Hoje, no entanto, a mundialização criou imagens mais matizadas: no último mês o Le Monde mencionava São Paulo a propósito de uma exposição dos irmãos Campana, e da riqueza de formação dos novos empreendedores da informática… Saímos aos poucos do clichê do contraste entre favelas miseráveis e riqueza insolente. E uma França mais esclarecida abandona aos pouco seu papel de “donneur de leçon” à humanidade, de palmatória do mundo. 
No entanto, os dois últimos importantes artigos do correspondente do jornal no Rio de Janeiro – como não poderia deixar de ser – foram dedicados ao mensalão e à violência em… São Paulo!
É evidente que a escalada da violência na capital paulista nasce de uma confluência de interesses em situar o debate no terreno de quem pode mais – no qual certa franja da polícia se torna parceira dos bandidos no mata-mata , como o sublinha o artigo  do Le Monde. No texto, o jornal opõe a orientação de represálias da ação da policia em São Paulo e as operações “sem tal efusão de sangue” conduzidas no Rio de Janeiro.
Mas a confiança numa solução advinda da intervenção do Estado federal parece ser mais interpretável como um recurso à figura do Pai, relevando do sonho de uma sociedade enfim pacificada sobre a autoridade de uma lei para todos, da qual o mensalão, no Brasil, nos alerta para não esperar demais.
Qual solução? Nem alienação pequena burguesa, nem cinismo desencanado.
Os próprios artigos do Le Monde, timidamente, constroem outra figura, ainda em filigrana: os irmãos Campana na sua retrospectiva no Musée des Arts Décoratifs e a excelência das formações dos novos empreendedores da informática podem não parecer oferecer alternativa para sair da violência, mas reafirmam o entusiasmo pela vida, pelo desejo de criação e de invenção.
Por isso vivo em São Paulo.