Por Carla Almeida
A exuberante exibição da captura imaginária por parte do Governo da Malásia, que listou as vestimentas que podem “denunciar” o homossexualismo
Que papel um Governo assume na suposta previsão do comportamento humano? Seria mesmo possível, ou desejável, definir a opção sexual de um indivíduo pela roupa que ele veste? Que fantasias os legisladores do Governo da Malásia nos apresentam ao listar características no vestuário de suas crianças que identificam uma suposta tendência ao homossexualismo? É o império do imaginário?
Neste domingo, 16 de setembro, foi publicada, em jornais de grande circulação nacional, a notícia de que o Governo da Malásia vem promovendo seminários para ensinar pais e professores a identificar características que apontem a um possível homossexualismo nas crianças.
O homossexualismo masculino teria os seguintes “indícios”: ter o corpo musculoso e gostar de mostrá-lo; vestir camisetas de gola V e sem mangas; ter a tendência a utilizar roupas claras e apertadas; sentir-se atraído por homens e por fim gostar de usar bolsas grandes que são semelhantes a usadas por mulheres. O feminino, por sua vez, seria caracterizado por: sentir atração por mulheres; ter a preferência de sair, fazer refeições e dormir na companhia de mulheres e não ter afeições por homens.
Como alerta o colunista do jornal inglês The Guardian, Mathew Todd, a questão não é prever a futura opção sexual de uma pessoa, mas sim, investir em programas que tornem visível o sofrimento das crianças que, por um motivo ou outro, podem ser enquadradas na lista escrita pelo governo da Malásia, ou, mesmo, em outras listas. “A verdade que se destaca sobre as crianças LGBTS em todo o mundo: não é que você pode vê-las a uma milha de distância, mas que, para os pais, professores e toda a sociedade, seu sofrimento é invisível”, Todd declara.
Com a criação destes seminários, tudo o que os legisladores conseguem fazer é dar vazão às suas “fantasias” em relação ao homossexualismo. Incitando os pais a submeterem seus filhos a “medidas severas”, tudo o que vão conseguir é recrudescer a culpa e a intolerância.
É pena. Tratar a criança com uma lei “ameaçadora” pode criar um sociedade mais amedrontada e, consequentemente, mais violenta. Aliás, no que diz respeito à sexualidade humana, o que foge do estranhamento? O que temem os legisladores? Há, mesmo, motivo de pânico na presença da diversidade humana? Não cremos. Afinal, como diria Nelson Rodrigues, “se cada um soubesse o que o outro faz dentro de quatro paredes, ninguém se cumprimentava”.