Por Dorothee Rüdiger
Temos culturas diferentes e outros estilos de encarar a vida. Apesar disso, dividimos a paixão pelo futebol
Levo uma bandeira do Brasil rumo à Alemanha. Com a bandeira do tamanho XGG vai a paixão pelo povo que, há tantos anos, me recebeu de braços abertos, feito o Cristo Redentor, quando escolhi viver nessa pátria amada para tanta gente. Hoje, há, dentre tantos milhões de brasileiros, torcedores apaixonados pela seleção, meus amores que me acompanham com seus desejos de boa viagem e de bom retorno.
Minhas raízes estão fincadas no chão donde brotam os pinheiros que dão cor e nome à Floresta Negra. Para lá é que vai minha bandeira verde, amarela, azul e branca. Irá fazer bela companhia à bandeira preta, vermelha e ouro dos alemães, quando será içada no mastro do prédio que outrora abrigava a escola do povoado de Aichen.
Meus amigos e familiares alemães torcem pelas duas seleções, por enquanto. A aposta deles é de que a Copa terminará numa partida final entre a Alemanha e o Brasil. Alemães e brasileiros têm isso: uma admiração mútua uns pelos outros, mesmo se às vezes são adversários. Temos culturas diferentes e outros estilos de encarar a vida. Apesar disso, dividimos a paixão pelo futebol. Guardadas as devidas proporções, somos como amantes para os quais, como dizia Lacan, “não há relação sexual”. Talvez não haja maneira de se entender na conversa, mas há muita paixão para se viver.
Que ressoem então os tambores e os chocalhos, as vuvuzelas e as trombetas de ambas as torcidas. Se no jogo final da Copa a bola rolar entre die Elf (“a onze”) e a Seleção, terei que segurar o coração dividido. Coração alegre, porque, afinal, minha equipe estará em campo. Qual delas? A bandeira em minha mala é a resposta. Será que há dúvidas?
Dorothee Rüdiger é psicanalista e doutora em Direito pela Universidade de São Paulo