Cinco passos para ser feliz 27/08/2015

Por Tatiana do Prado Valladares

A felicidade é um conceito tão comumente pré-determinado para o ser humano que, ao verbalizá-lo, só é possível fazê-lo na voz passiva.

Vamos dar logo a má notícia: ser feliz não existe. Mas não precisa se desesperar. Dá para fazer algo muito melhor que esperar a felicidade bater à sua porta: “felicizar-se”. Como assim? A felicidade é um conceito tão comumente pré-determinado para o ser humano que, ao verbalizá-lo, só é possível fazê-lo na voz passiva. Felicizar-se é um verbo inventado, que não consta na língua portuguesa, mas é ativo e singular e, portanto, existe.

Imagine que uma amiga reencontra outra, que há muito não via, mais bonita e mais magra. É inevitável perguntar como ela conseguiu. Espera-se que a resposta seja elaborada: “Tomei um remédio novo que custa mais de mil reais”, ou “Fiz a nova dieta do Dr. H.” Nada seria mais frustrante e desinteressante que ouvir o óbvio: ela, (pasmem!), apenas está comendo menos e resolveu levantar do sofá para bater perna. Que banal!

Nós nos interessamos pelo novo, pelo milagre, pela fórmula mágica, pela dica da moda, embora estejamos cansados de saber que, para emagrecer, basta trancar a boca e se exercitar. Não é estranho que, mesmo sabendo o que fazer, nossa tendência não seja buscar o caminho óbvio, mas o caminho infalível pelo qual os outros já passaram?

Não queremos emagrecer, queremos ser emagrecidos! Emagrecer dá trabalho. Já ser emagrecido parece ser mais cômodo. O menor esforço é o que vale.

Não queremos felicizarmos, queremos ser felizes! Qualquer frase de efeito compartilhada nas redes sociais, qualquer livro de autoajuda ou qualquer lista de dicas infalíveis são imediatamente devorados e propagados à exaustão mundo afora. Quantos compartilhamentos merece uma dessas sugestões prêt-à-porter? Quantos likes elas poderão receber?

Esperamos que o outro nos dê o caminho, a direção daquilo que almejamos. Ser feliz é ser passivo diante do mundo. E frustra, porque o mundo não nos dá aquilo que demandamos. É o caminho mais rápido para a angústia e infelicidade. Felicizar-se, por sua vez, implica agir, atuar, suar, errar, acertar, assumir riscos, escolher, e, por acaso, topar com a felicidade no encontro fortuito com o outro. Felicizar-se implica responsabilidade. Pois, se nossos desejos pautam nossas vidas, momentos bons e momentos ruins acontecem por acaso.

Mas, … ufa… isso dá muito trabalho. Melhor não arriscar, não é? Melhor continuar demandando do outro, procurando um caminho idealizado por outro, pelo outro e para o outro. Se por um instante você resolver assumir seguir os caminhos de seu próprio desejo, mas, ao menos, por hora, não quiser abrir mão das receitas, eis cinco dicas:

Primeira dica: Ser feliz é um conceito de senso comum que não reflete o seu desejo nem a sua singularidade;  

Segunda dica: Procure as perguntas, não as respostas;

Terceira dica: Você escolheu. Agora aguente as consequências;

Quarta dica: Desconsidere tudo o que lhe foi indicado ou sugerido sobre felicidade, e

Quinta dica: Apague todas as dicas acima e escreva a sua própria história. 

Tatiana do Prado Valladares é advogada e membro do Corpo de Formação do IPLA – Instituto da Psicanálise Lacaniana.