Por Hélio Teixeira Dias Netto
O tempo e a arte de se responsabilizar por si mesmo, de bancar sua própria liberdade
Na vida prática pessoal e profissional cabe bem uma postura que se defina de maneira firme e clara. É o que espera um paciente, por exemplo, quando procura um médico por uma moléstia desconhecida que perturba seu cotidiano. Não se exige o diagnóstico, frio e certeiro, já logo de início, mas é de bom tom que aquele possuidor da capacidade de resolução do problema não venha se safando de assumir um possível diagnóstico errôneo e não siga alimentando a angústia da espera por inúmeros resultados de testes complementares.
Cada vez mais a prática médica caminha para a necessidade do respaldo objetivo e estreita os caminhos da subjetividade, diálogo e humanização. Nesse aspecto, a Psiquiatria e a Psicanálise trabalham em um âmbito diferenciado, que não conta em sua grande maioria com o apoio laboratorial e de imagem, trazendo para o profissional toda a responsabilidade por suas colocações. Trabalha-se em meio à névoa do desconhecido, inesperado e irrevogável. Seria isto o que assusta aqueles que preferem evitar de se implicar, esperando a certeza de um saber? Não há como se furtar.
O Analista reitera seu papel de não ter as respostas para as demandas do paciente assumindo sua ‘Douta ignorância’ e implicando o próprio paciente naquilo de que se queixa. Da mesma forma, o Psiquiatra dá espaço indispensável à escuta do paciente e aos desdobramentos de sua patologia, recorrendo ao aporte teórico e à experiência clínica para sugerir o que considera o melhor diagnóstico e tratamento.
É o que se espera de qualquer cidadão comum, na política ou nas pequenas escolhas diárias, em toda liberdade. Assim ocorre numa relação paciente-médico: a cada um sua responsabilidade. Mas tudo isso hoje em dia em meio a tempos em que a sociedade anda ‘desbussolada’, como disse Jorge Forbes, parece em razão mesmo da perda das identificações paternas ter se tornado uma arte – a arte de se responsabilizar por si mesmo, de bancar sua própria liberdade.
Hélio Teixeira Dias Netto é estudante de Medicina
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