Barulho de comemoração 21/12/2012

Por Dorothee Rüdiger

Soltamos fogos para espantar os maus augúrios ou abrir o caminho do desejo?

Eis a questão De Sidney a Berlin, de Johanesburgo ao Rio de Janeiro, bem-vindo seja o ano de 2013, com brindes, abraços e fogos de artifício!  Em qualquer lugar do mundo, a passagem do ano merece uma festa de arromba, com direito a fogos de artificio e muito barulho.
Soltamos esses fogos, capazes de colorir céu da noite, desde a época em que os chineses inventaram a pólvora. Comemoramos o fim do ano com muita barulheira e, de quebra, espantamos os maus espíritos que, porventura, possam atrapalhar nossos planos para os 365 dias que virão.
Peraí…. Que maus espíritos poderiam atravessar nossos projetos para 2013?  Será que, em pleno século XXI, ainda  conservamos as superstições dos velhos povos germânicos? 
Desde que somos seres humanos, capazes de construir um mundo com a cultura e, consequentemente, angustiados diante da morte, sentimos um frio na barriga frente ao novo, como diz Sigmund Freud no ensaio O tabu da virgindade. Não sabemos o que o futuro pode trazer. Criamos fantasias que facilmente podem nos levar à decepção: Era só isso?
Desejo paz, amor, felicidade, sim. Mas, posso saber o que me espera? O que faço para não me decepcionar diante das minhas expectativas? Na virada do ano, o que não faltam são previsões. Consultamos numerólogos, pais de santos, cartomantes e economistas para saber de antemão o que nos espera. O novo ano será próspero? Será feliz?
 Tentamos quebrar, de muitas formas, os mistérios do futuro. Não havendo como nomeá-lo, o porvir nos angustia. Sabemos que também haverá dificuldades, acidentes e más notícias no ano que se inicia.  Mas não gostamos desses “penetras” em nossa festa da vida, ainda mais quando, no dia da paz universal, o mundo parece estar em harmonia consigo mesmo.  Mas bem sabemos que essa harmonia não existe, e não existirá nunca. Cada um de nós encontrará em 2013 sua pedra no caminho e terá o desafio de contorná-la com estilo, com savoir y faire, como diz Jacques Lacan. 
Vamos então fazer barulho e soltar fogos em meio às trevas da noite de São Silvestre.  Não vamos conseguir espantar as intempéries da vida com isso. Mas, quem sabe, possamos, solenemente, abrir caminho para que os desejos de paz, amor e felicidade no ano de 2013 sejam realizados por cada um de nós.