Por Dorothee Rüdiger
O ato do jogador numa partida de futebol provocou um movimento virótico nas redes sociais
Nesta semana, um singelo gesto do jogador de futebol Daniel Alves deu o que falar. Prestes a bater um escanteio no jogo entre seu time, o Barcelona, e o Villareal, um torcedor do time real jogou uma banana a seus pés. O craque não teve dúvidas. Catou a banana, descascou, comeu e jogou a casca fora, antes de voltar ao jogo e realizar o lance. Simplesmente assim, devolveu com seu gesto a banana ao torcedor racista.
O ato do jogador causou um movimento virótico nas redes sociais. Uns quiseram se solidarizar. Outros quiseram pegar carona no gesto. Somostodosmacacos dizia o hashtag. Não caiu bem. Afinal, nem negros, nem brancos, nem asiáticos e nem peles vermelhas, apesar de gostarmos de comer bananas, somos macacos. Somos gente. Surgiram até camisetas com estampas de bananas. É claro que há sempre espertinhos que, tal como vendedores de sombrinhas em dias de chuva, estão prontos para transformar qualquer fato em negócios. Assim caminha o capitalismo.
O que resta de consolo é que em nosso mundo contemporâneo palavras não têm peso e os objetos são produzidos para não durarem. O hashtag somostodosmacacos logo será esquecido e as tais das camisetas tornar-se-ão panos de limpar móveis. Como psicanalistas, sabemos da efemeridade das palavras. Para Jacque Lacan, a palavra é parasita. É som ao vento. É curto-circuitada em tempos pós-modernos, como diria Jorge Forbes. E já que a palavra gira no vazio, restou a Barack Obama comentar assim as recentes declarações racistas do dono time de basquetebol norte-americano Los Angeles Clippers, Donald Sterling: “Quando um ignorante fala para demonstrar a sua ignorância, não podemos fazer nada, só deixá-lo falar”.
O mundo facilmente esquecerá palavras ignorantes e bananas jogadas ao gramado. No entanto, certamente ficará na memória o gesto do jogador de futebol capaz de tirar o fôlego do ato racista do torcedor, pois fez da banana o que ela é: uma fruta a ser descascada e comida. Só isso. E nada mais.
Dorothee Rüdiger é psicanalista e doutora em Direito pela Universidade de São Paulo.