Por Fabiana Guedes de Oliveira
A escolha foi feita! Mas, e se escolhemos errado? Não importa, pois sofreremos as consequências, boas ou ruins, da escolha da maioria!
Nos últimos meses, fomos alvejados por candidatos que buscavam, avidamente, conquistar nosso voto. Agora, definimos quais políticos irão gerenciar nosso Estado, nosso País, por mais quatro anos. Vitoriosos ou derrotados, presenciamos uma disputa que, como costumamos dizer, foi “pau a pau”.
Essa expressão pareceu-me muito adequada para definir o que acompanhamos: propostas de um lado e acusações de outro tentaram agradar a gregos e troianos. Foi como se houvesse somente gregos e troianos e não outros povos na face da terra. E o circo televisionado chamou nossa atenção e provocou revolta. Identificamo-nos, repudiamos, nos inflamamos, nos desligamos… A velha briga entre o bem e o mal, o certo e o errado, Deus e o Diabo, marcou esta campanha. Parece que estou falando de religião, quando, na verdade, tento descrever o clima político. Cada um, do seu modo, tentou, com todas as suas forças, defender seu candidato preferido. Tentou dizer porque sua escolha era a melhor, a mais consciente, a mais certa. As pessoas defenderam-se, atacaram-se e, no entanto, não perceberam que estavam num mesmo barco de uma mesma sociedade. Afinal de contas, os eleitos irão governar para todos, e não somente para o grupo que os elegeu!
Depois dessas eleições, resta a questão para o futuro: como escolher, quem escolher, quando não temos mais a orientação de uma verdade absoluta, uma verdade única, a verdade do Pai, do grande líder que satisfaça a todos? Diante de tantas propostas políticas sedutoras, de tantos deslizes escandalosos, em quem acreditar? Sem rumo, as redes sociais “bombaram” durante a campanha eleitoral com uma troca de acusações de arrepiar que tocou cada um de nós de um jeito singular. E, no final das contas, continuamos querendo saber onde está a verdade.
Sinto constatar que no jogo da política não há verdade infalível. Diante disso, a incerteza, ou seja, o Real, para usar um conceito de Jacques Lacan, dá muita angústia. O Real mostrou-se implacável. Pressionou-nos a tomarmos uma decisão sem saber, a assumirmos responsabilidades sem poder calcular qual será nosso futuro. É nossa responsabilidade pelo acaso, como quer Jorge Forbes.
A escolha foi feita! Mas, e se escolhemos errado? Não importa, pois sofreremos as consequências, boas ou ruins, da escolha da maioria! É a civilização contemporânea com suas regras que nos obrigam a abrimos mão de parte de nossa satisfação. Em outras palavras: não dá para ter tudo! O impasse foi, por hora, resolvido. Agora nós, os eleitores, temos de arcar com as consequências do que foi decidido por essa apertada maioria. Como nosso mundo globalizado não para de lançar seus desafios, como já foi dito na semana passada nesta coluna de O Mundo visto pela psicanálise, vamos ser obrigados a criar outros caminhos políticos. Na psicanálise lacaniana experimentamos isso, pois ela nos implica na criação de uma resposta singular diante daquilo que não sabemos e que, portanto, nos angustia.
As cartas estão na mesa, um novo jogo começou. Resta-nos jogar!
Fabiana Guedes de Oliveira é psicóloga graduada pela Universidade de fortaleza e psicanalista clínica em Rio Branco – Acre