Por Italo Venturelli
Não precisamos que nenhum calendário nos informe a data do fim do mundo. A morte, questão existencial de difícil compreensão, ganha interpretações fatalistas com a profecia Maia que agenda o fim dos tempos para 21 de dezembro de 2012
“Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar. Por causa disso a minha gente lá de casa começou a rezar…”, cantava Carmen Miranda em 1938, no samba E o mundo não se acabou. A canção fazia troça dos boatos de colisão do cometa Halley com a Terra, o que ameaçava mandar nossa civilização literalmente para o espaço e assombrava corações e mentes nos anos 1930.
Na segunda década do Século XXI, novamente somos bombardeados pelas profecias de fim do mundo, agora agendado para o dia 21 de dezembro de 2012. Os Maias previram que o Sol mudará a sua polarização nesta data, o que dará origem a explosões que assolarão o planeta. A NASA fez graça com o assunto e lançou, em 12 de dezembro, o vídeo: “Why the World didn’t End Yesterday”, ou “Por que o mundo não acabou ontem”. Trata-se, evidentemente, de uma alusão ao dia seguinte à data marcada para o fim do mundo que, evidentemente, não acabou – ao menos no vídeo!
Saindo do plano das previsões catastróficas que jamais se confirmaram – ao menos até agora! –, não é preciso que nenhum calendário nos informe a data do fim do mundo. Podemos senti-lo na pele a qualquer instante, diante da angústia das perdas, da angústia das escolhas entre o permanecer, o decidir, o reinventar. Assim acontece com o neurótico, que, frente a uma das maiores questões existenciais, de grande dificuldade em sua simbolização – a morte – , acredita haver um determinismo, um maktub, um destino trágico.
Como falar dessa experiência humana inexorável? Vivemos tentando representar a morte, encontrar um sentido para a perda daqueles que amamos. Para tanto não faltam religiões, crenças, filosofias, ciência e arte. Freud aponta que “nenhum ser humano realmente a compreende, e o nosso inconsciente tem tão pouco uso hoje, como sempre teve, para ideia da sua própria mortalidade…[uma vez que quase todos nós ainda pensamos como selvagens acerca desse tópico (morte), não é motivo para surpresa o fato de que o primitivo medo da morte é ainda tão intenso dentro de nós e está sempre pronto a vir à superfície por qualquer provocação.”
Se por um lado a idéia da finitude assusta, o que seria de nós sem esse limite existencial? Diante da angústia que a idéia do fim provoca, há a tendência de um apego em previsões apocalípticas que incitam a culpa e o medo. Outra postura é aquela que faz com que tenhamos que nos lançar de maneira criativa e arriscada na vida, inventando um sentido próprio e fazendo valer nossa existência.