Ah, Meu Guri! 25/09/2012

Por Claudia Riolfi

Delegar sua responsabilidade é o pior que uma mãe pode fazer. Nunca tente tapar o sol com a peneira quando seu filho pisa no tomate

Há alguns dias, a desesperada mãe de um integrante da “gangue dos playboys”, uma quadrilha formada por jovens de classe alta, exemplificou como age uma histérica do século XXI, bem em frente às câmeras do programa Domingo Espetacular. Ao ser confrontada com as transgressões de seu rebento, ela tampa os olhos com as duas mãos e, com medo de errar, deixa que a angústia a paralise, escolhendo uma linha de ação que, inevitavelmente, levará o filho a repetir seus erros. Ela agiu assim quando pediu ao repórter: “Não deixe meu filho ir para a cadeia. Você precisa fazer alguma coisa por ele”.

Ora, se o jornalista não era o pai do garoto que, sem cerimônia, fazia compras com o cartão de crédito das vítimas, por que seria ele a pessoa mais indicada para resolver seus problemas familiares? Como ele poderia evitar que o jovem fosse punido pelo crime que cometeu? 

Pobres histéricas! Deixam suas crias literalmente mal educadas e acabam parecendo doidas mansas. Será que a mãe do integrante da gangue dos playboys desconhecia as “travessuras” nada inocentes do rapaz como canta Chico em Meu Guri? Talvez ela tenha desistido de saber quanto custam as roupas de grifes compradas com o dinheiro alheio. Ela não pensa. Resta decidir se a causa disso é a boa e velha política do avestruz que esconde a cabeça na areia ou a enxurrada do prazer acéfalo que a psicanálise chama de gozo. Pobres filhos! Aparentemente livres das restrições que os limites maternos impõem, crescem despreparados para enfrentar os desafios da vida.

Não é necessário ser histérica para um filho marginal. Pode acontecer com qualquer uma. Porém quem é capaz de dizer “eu não tolero isso” corre muito menos risco. Ao explicitar a indisposição para aceitar certas atitudes, pouco importa se a mãe está certa ou errada, ou é justa ou injusta – ela está mostrando ao seu filho que ela tem limites, e é isso que importa. Quando uma criança separa a mamãe que dá colinho da mulher que preza sua honra e é capaz de dizer “isso não dá para mim”, capta a existência do que a psicanálise chama de “ponto de vergonha”, um lugar a partir do qual precisa parar se não quiser entrar no campo do intolerável.

Como tornar o ponto de vergonha mais visível? Diga claramente quando alguma coisa que ele fez foi meio demais para seu estômago. Fazer pedidos disparatados para quem não tem nada a ver com isso (como o pobre repórter da Record) só piora o problema. Quando se trata do seu filho, você pode até terceirizar cuidados, mas, jamais, tentar tapar o sol com a peneira quando ele pisa no tomate.