Por Claudia Riolfi
Quando não se encontra o padrão de comportamento de alguém, é melhor nem perder tempo procurando. Quando nossos companheiros parecem estranhos, o melhor a fazer é não entender
Se você é professor, profissional da educação ou tão somente ser humano, uma coisa é certa: tem alguém por aí que lhe deixa muito intrigado. Ele não lê como você esperaria que lesse, não pensa como esperaria que pensasse, não age como esperaria que agisse. Por mais que você tente, não consegue enquadrá-lo em teoria alguma. Está fora da caixa. Seu comportamento parece não ter padrão. Algum problema nisso? Com ele, nenhum. Com você, talvez.
Você gasta muito tempo tentando encontrar padrões para coisas imprevisíveis e, assim, perde o melhor da festa. Gente! Vale a pena viver se é para ficar barrado do baile? Entrar na vida como se fosse um grande salão de festas implica em se autorizar a, nele, colher experiências que ofereçam satisfação. Isto, por sua vez, demanda saber escolher o que lhe satisfaz. Aqui começam as complicações.
A matéria Busca por padrões pode prejudicar tomada de decisão, de Antônio Carlos Quinto, publicada em 29/10 no periódico USP Notícias, pode nos ajudar a aprofundar a discussão. Comentando a pesquisa de Carolina Feher da Silva, ela elogia a tomada de decisão sem raciocínio. Quando se trata de tomar uma decisão, diz a reportagem, “a melhor opção pode ser aquela em que não sejam levados em conta padrões ou a busca deles”. Vê-se, aí, uma consonância com a proposta de Jacques Lacan levada adiante pelo IPLA: a possibilidade de passar diretamente ao real sem necessidade de preparação anterior.
Para a biomédica Carolina Silva, fã do reino animal, a satisfação de quem não pondera é muito menos problemática do que a nossa. Quando se trata de obter prazer, os bichinhos não complicam as coisas. Não ficam fazendo apostas com deuses obscuros nem fazendo de tudo para que eles mantenham seu desejo insatisfeito. Convidados a escolher entre uma coisa bacana e uma insossa, “eles optam pela estratégia simples de escolher sempre a opção em que a recompensa era mais frequente.”.
A pesquisa, realizada com o auxílio de modelos de inteligência artificial, tem importantes impactos para os profissionais da educação ou, mesmo, para os da área “psi”. Ensina que há de se acolher o outro em sua alteridade absoluta. É imperativo não tentar enquadrá-lo. Quando nos deparamos com um “comportamento desviante”, ficar esperando melhor compreensão antes de passar à ação é perda de tempo, é desperdício de libido, é papo para o boi dormir.
Aprendamos a lição dos bichos. Nem tudo se entende, nem tudo se explica. Quando não se encontra o padrão de comportamento de um paciente, de um amigo, de um amante, é melhor nem perder tempo procurando o que não existe. Se existe alguma coisa que a Clínica do Real ensina é que, mesmo fora de todo e qualquer entendimento, pode haver satisfação.