Acompanhamento psicológico de pacientes oncológicos: Uma escuta norteada pela psicanálise 05/05/2016

Por Edimara Leite

É possível oferecer uma escuta psicanalítica aos pacientes oncológicos em tratamento paliativo?

Por estar inserida em uma equipe de saúde da Santa Casa de Misericórdia em Alfenas, sul de Minas Gerais e acompanhando pacientes oncológicos e seus familiares, passei a questionar o tratamento paliativo e a oferta de um atendimento psicanalítico neste contexto. Inquietada por essa pergunta, que também orienta meu posicionamento ético clínico, pretendo refletir sobre a intervenção neste contexto institucional.

A assistência aos pacientes em estágio terminal evidencia uma clínica marcada pela transitoriedade, já que o aumento da possibilidade da morte confere um valor maior ao tempo. Por isto, muitos pacientes passam a ressignificar suas prioridades, sentido e valores de vida. A evolução da doença se reflete, de forma gradual, na debilidade do corpo e na proximidade da finitude, o que gera, em muitos deles, angústia diante de algo que não é simbolizável.

Os conceitos de primeira e segunda morte elaborados por Lacan tornam possível identificar como os diferentes discursos envolvidos nesta clínica lidam com as distintas dimensões de morte. A primeira morte, a do corpo orgânico, reflete a maneira de como a medicina concebe a doença e o corpo. Já a segunda morte, diz respeito à incidência do código da linguagem que constitui o sujeito e subverte o corpo orgânico, tornando-o libidinal, em uma dimensão que singulariza a satisfação da pessoa. É sobre essa dimensão que a escuta se pauta, por permitir ao paciente incluir sua subjetividade dando um tratamento à sua angústia através da fala.

Desta forma, a psicanálise em extensão, voltada para a assistência a pacientes oncológicos em tratamento paliativo, torna possível um modo distinto de lidar com a doença e a angústia. Privilegia uma dimensão da palavra que possibilita emergir um sujeito que constrói, de modo singular, uma forma de lidar com os enigmas intrínsecos ao ser, dentre eles, a morte.  É por meio desta escuta psicanalítica, que o paciente tem a chance de refletir e se aproximar da finitude e da transitoriedade que são inerentes a nós, humanos. 

Edimara Leite é psicóloga da Associação de Voluntários Vida Viva de Alfenas – MG.

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