Por Flávia Lyrio

A voz é parte fundamental da identidade e da nossa construção enquanto imagem

A voz, assim como a impressão digital, é uma marca única e singular. É sinônimo de identidade e reveladora da subjetividade. A Fonoaudiologia, através dos anos, vem buscando construir teorias e técnicas ancoradas em um objeto legítimo e que oriente o conjunto de posturas básicas próprias à sua clínica. Tendo por objeto a linguagem, dialoga com outras disciplinas e possui formas de interpretação dos sintomas que particulariza sua área de atuação.

A Fonoaudiologia tem seu olhar voltado para as alterações na comunicação, como a linguagem oral e escrita, a articulação dos sons da fala, a voz, a fluência da fala e a audição. Entretanto, busca não somente a supressão de sintomas e a aplicação de técnicas, mas também o aprimoramento, o aperfeiçoamento dos aspectos ligados à área da comunicação e o trato com a palavra enquanto expressão da subjetividade de uma pessoa.

Privilegiar as peculiaridades do paciente, considerando o sintoma como algo que, muitas vezes, revela expressões singulares e o sofrimento de um sujeito, humanizou a fonoaudiologia.

Pensemos então na voz, na fala. Muitas vezes observamos que a fluência, o ritmo, a entonação, a altura, o volume e o próprio discurso são carregados de sentidos e emoções, ao percebê-las, reportamos à existência de um funcionamento cerebral e psíquico que deve ser considerado em sua singularidade. Além das particularidades a respeito do volume, ritmo, fluência, entonação, a voz é também parte fundamental de nossa identidade e da nossa construção enquanto imagem. Alterações no timbre da voz, volume, rouquidão, ou mesmo a perda da voz, trazem consequências que vão além de fatores orgânicos, têm efeitos sobre a subjetividade e os afetos de uma pessoa.

A linguagem é simbólica e passível de inúmeras interpretações. O que não se fala também diz. Observamos que além de ser necessário, dizer algo inteligível e interpretável é fundamental levarmos em conta o que e como é dito. O fonoaudiólogo como terapeuta é um intérprete diferenciado. Sua escuta orienta suas intervenções que provocam efeitos: as respostas singulares que cada pessoa empenha durante o tratamento.

Flávia Lyrio é fonoaudióloga e consultora em comunicação.