Por Isabela Anequini
Não é a busca pela cura, pela reabilitação ou pelos retornos dos movimentos em que está envolvida a vida e o filme de Stephen. O centro de tudo é o Tempo
O emocionante filme sobre a vida de Stephen Hawking, físico e cosmólogo britânico, extrapola a comoção pela história da sua doença ou pelos envolvimentos amorosos, encontros e desencontros.
A esclerose lateral amiotrófica é uma doença progressiva, crônico-degenerativa, sem cura, na qual há perda progressiva dos movimentos, iniciando pelas mãos e pés e progredindo até atingir a musculatura respiratória, a fala e a capacidade de engolir alimentos. Poucas funções são preservadas, como os movimentos dos olhos, o controle urinário, a função sexual e a capacidade de raciocinar.
No filme, a interpretação de Eddie Redmayne é perfeita. Os objetos caindo das mãos, os tropeços, a escrita tremida, a alteração gradual da fala, a perda dos movimentos, a fraqueza em sustentar a cabeça, os engasgos, a dependência de terceiros para realizar atividades simples e até os pequenos tremores são sinais legítimos de uma doença devastadora que é culminada com o diagnóstico e o prognóstico fatídico de uma sobrevida média de dois anos.
A doença é, exatamente, um “banho de água fria” como mostrou a campanha “O desafio do balde de gelo”, proposta no ano passado pela ALS Association (uma organização americana sem fins lucrativos para pesquisa da esclerose lateral amiotrófica). Tal campanha foi replicada no mundo inteiro, inclusive no Brasil, infelizmente por vezes de maneira inconsciente tomada apenas pelo impulso das redes sociais.
Por trás da genialidade de um cientista, Hawking, que desenvolveu os teoremas de singularidade e a radiação e que estava determinado a provar tudo com uma única equação, está a singularidade de alguém que combate a doença de uma maneira um tanto quanto incomum. Não é a busca pela cura, pela reabilitação ou pelos retornos dos movimentos em que está envolvida a vida e o filme de Stephen. O centro de tudo é o Tempo. Justamente Hawking, que foi fadado a não ter mais que dois anos de vida; aceitou o desafio de escrever Uma Breve História do Tempo, um best-seller de conteúdo científico, mas pleno de significados.
O cientista desenvolveu a teoria moderna acerca dos buracos negros e depois a colocou em cheque confirmando a dificuldade de previsão do tempo na Terra e afirmando que “[…] O desejo profundo da humanidade pelo conhecimento é justificativa suficiente para a nossa busca contínua”. Mais que a Teoria de Tudo, é a Teoria da Vida.
Isabela Anequini é fisioterapeuta do Centro de Estudos do Genoma Humano/USP.