Por Elisa Padovan
Não podemos ignorar os achados científicos e muito menos o que constatamos em nossa prática diária
Em uma reportagem de 07 de fevereiro de 2016, ao jornal El País, intitulada, A psiquiatria está em crise, o jornalista Robert Whitaker, quer provar que as doenças mentais não se devem a alterações químicas do cérebro. Afirma que os psiquiatras aceitaram a teoria do desequilíbrio químico nos transtornos mentais para poder prescrever remédios e dessa forma parecerem mais médicos, igualando-se aos colegas de profissão. Segundo ele, as doenças mentais seriam fruto do interesse da indústria farmacêutica e o tratamento farmacológico atenderia a tais interesses, piorando com isso a saúde dos pacientes, uma vez que o cérebro seria prejudicado pelo uso das medicações.
Diante de tal publicação, importante considerar, que é fato que o conhecimento sobre a psiquiatria tem sofrido constantes mudanças nas últimas décadas, inclusive a especialidade é considerada jovem quando comparada a outras. Entretanto, não podemos confundir os conceitos. Em primeiro lugar os transtornos mentais acometem o homem desde o início de sua existência, mas o conhecimento frente a esses transtornos e o tratamento adequado para cada um deles não está totalmente claro. O interesse científico sobre esses aspectos não é representado apenas pela indústria farmacêutica, há também, um grande interesse da medicina no entendimento das doenças que claramente causam grave prejuízo aos pacientes. A esquizofrenia é mais diagnosticada nos Estados Unidos, não porque há um excesso de tratamento, mas sim, devido a um sistema de saúde mais desenvolvido, composto por especialistas mais habilitados para estabelecer seu diagnóstico. Além disso, já comprovamos através de exames de imagem que os surtos psicóticos são tóxicos ao cérebro e causam perda neuronal. A despeito disso, quanto mais surtos o paciente tiver, maior será a perda de suas funções cerebrais. Vale ressaltar que é preciso cautela para não medicalizar qualquer mal-estar, qualquer noite mal dormida, contudo, não podemos ignorar os achados científicos e muito menos o que constatamos em nossa prática diária. Ainda há um vasto caminho para ser descoberto no campo da psiquiatria, porém não podemos retroceder baseando-nos em argumentos improváveis que pedem uma séria sustentação cientifica.
Elisa Padovan Camillo é psiquiatra formada pelo Hospital do Servidor Público Estadual e membro da equipe do Instituto da Psicanálise Lacaniana – IPLA.
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