A pílula antimedo 30/04/2014

Por Claudia Fabiana de Jesus

Na vida não há garantias. E então, como lidar com o medo? 

Perder quem mais amamos, amar e não ser correspondido; sofrer um acidente ou um infortúnio; suportar o sucesso e a felicidade são situações que suscitam e têm o medo como ronda. A Revista Super Interessante trouxe no mês de abril uma matéria, Como vencer os seus medos, focando que nunca as pessoas sofreram tanto com medos e que se deve saber como escapar aos mesmos e viver em paz. Abre para a reflexão sobre o quanto o medo é algo inerente à condição humana e propõe o controle como meio de ter garantia para se viver bem.  

A matéria coloca que 78% das pessoas têm medo de perder entes queridos. Frente a esses números, perguntamos: e não é esperado que realmente tivéssemos medo de perder quem amamos? Descreve, ainda, receitas prontas para como lidar com esse sentimento humano. Dentre elas, indicações terapêuticas a partir de resoluções que sejam rápidas, instantâneas, nas quais se busca enquadrar a pessoa numa forma padronizada de responder aos impasses da vida. Em uma sociedade “just in time”, sem intervalos, sem silêncios, caem bem terapêuticas “prêt-à-porter”. A matéria descreve a promessa de estudos voltados para a prevenção do medo a partir medicalização, a pílula do medo, que evitaria os sentimentos ditos negativos.

Paradoxalmente, o medo, ao mesmo tempo em que é eleito como um mal a ser combatido, também se tornou um orientador das ações humanas. Cautela, prudência, bom senso e até mesmo o politicamente correto são inspirados no medo. Elegendo-o como o mal a ser exorcizado, reforça uma ideia de que o mal e o perigo são externos e que nossas fragilidades e sensibilidades têm de passar por um processo de embrutecimento. A partir da matéria, percebe-se que a ação do sujeito pode ser resumida na máxima: sempre alerta! O imprevisto, as adversidades e as surpresas têm de ser evitados e combatidos.

Os grandes dilemas humanos não têm explicações, não têm soluções e não têm cura. Lidar com a morte, a sexualidade, o amor são impasses da própria vida humana. Na vida não há garantias e sentimos medos sim, o importante é não nos deixarmos paralisar por eles. O imprevisto e o acaso são nossos companheiros na caminhada pela vida e a partir deles há as possibilidades de criação e invenção. Poder acolher na própria vivência questões que nos escapam e fazer algo com isso, sem que seja da ordem da moral, da normalidade e dos padrões sociais, é um convite à criatividade responsável.  

Claudia Fabiana de Jesus é psicóloga, mestre em Psicologia da Saúde.