A onda de violência e a falência do Supereu 06/12/2012

Por Isabel Hamud

Vivemos na era do livre desenvolvimento da sexualidade e a Clínica do Real não fala mais da culpa. Sendo assim, como podemos explicar o descontrole da violência?

Nos últimos dois meses, virou rotina para o paulistano ler no jornal manchetes sobre o número de mortos na noite anterior. Temos visto explosões, ataques, rompantes e mortes. Freud não explica mais!
A Psicanálise sempre falou das pulsões e da agressividade individual, que poderiam ser contidas a partir do controle do Supereu. A vida gregária é, ao mesmo tempo, uma necessidade e um incomodo para os seres humanos; nascemos dependentes e precisamos do outro para sobreviver. Assim, somos inseridos na cultura e na civilização e agraciados com o cuidado coletivo. A contrapartida dos benefícios é a renúncia das pulsões.
Em 1929, em O mal-estar na cultura Freud conclui que a civilização consegue, de uma maneira ou de outra, dominar o perigoso desejo de agressão, enfraquecê-lo, desarmá-lo e estabelecer no interior do sujeito um agente para conter o desejo. Isso porque esse agente – o supereu – vigia o eu e está pronto a condená-lo, intensificando o sentimento de culpa que sustenta a civilização.
Freud acreditava que o Supereu (Herdeiro do Complexo de Édipo) era uma reedição do pai primevo, que fora assassinado no mito da Horda Primitiva. Para ele, tanto a sociedade quanto o próprio indivíduo tem em sua origem dois atos criminosos primordiais: o parricídio e o incesto. A proibição do incesto por meio da intensificação da culpa pelo parricídio sustentava a civilização.
Pouco depois de escrever sobre as teorias sexuais infantis e refletir sobre o papel que pais, educação e sociedade exercem sobre as mesmas, em 1908, Freud escreve o artigo Moral Sexual ‘Civilizada’ e Doença Nervosa Moderna, sob a influência do livro Ética sexual de Von Ehrenfels (1907). Segundo nota do tradutor inglês, este artigo é a primeira das longas exposições que Freud faz sobre o antagonismo entre a civilização e a demanda pulsional. Escritos anteriores, no entanto, já revelavam a convicção que Freud tinha a esse respeito, como, por exemplo, em cartas enviadas a Fliess e em seus Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, publicado em 1905, onde afirma que é inversa a relação existente entre a civilização e o livre desenvolvimento da sexualidade.
Acontece que hoje vivemos na era do livre desenvolvimento da sexualidade e a clínica do Real não fala mais da culpa. Sendo assim, como podemos explicar o descontrole da violência?
A resposta não é ressuscitar o pai…