O futuro da morte 22/10/2015

Por Alain Mouzat

O homem que viverá 1000 anos já nasceu …

Vocês acham que vivemos muito? Nossos avós morreram jovens, nossos netos vão morrer velhos. Mas, velhos quanto? 100, 120, 150 anos? Na velocidade das descobertas da biotecnologia ou dos progressos das esperanças de vida, eles já podem esperar viver talvez uns mil anos. Por que não?

Uma pergunta: você viveria da mesma forma se fosse viver cem anos ou mil anos? Ou para sempre? Se não tivesse a certeza de morrer?

Lacan interpelou seus ouvintes com essa pergunta, na conferência que fez em Louvain, e não se furtou em afirmar que o conforto de todos residia exatamente na certeza de que iriam morrer.

Um analisando me conta que a única coisa que lhe permite vencer a angústia e encontrar o sono é a certeza de que vai morrer: assim a angústia dele fica aplacada e ele pode dormir…

Viver para sempre é a mesma coisa que o eterno retorno, tal como expressou Nietzsche? Não, com certeza: o eterno retorno é “aqui se faz, aqui se paga”. Viver para sempre quer dizer que não há nenhuma chance de pagar, não há saldo.

As figuras da conta a pagar, do término do prazo é forte: as religiões as usam para garantir a moral: parábola dos talentos ou juízo final… Mas o que vai acontecer se não houver ninguém, nem que seja para perguntar se viveu conforme o seu desejo? 

Silêncio absoluto. 

 

Alain Mouzat é professor da Universidade de São Paulo, doutor em linguística, e psicanalista membro do Instituto da Psicanálise Lacaniana

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