A língua nada rica das nossas milionárias 22/11/2012

Por Mariana Ribeiro

Falta de coerência domina as ações e o discurso das protagonistas do reality show “Mulheres Ricas”

Nesta semana, começa a ser filmada a nova temporada do Reality show Mulheres Ricas, da TV Bandeirantes. A primeira temporada gerou polêmicas, críticas e, principalmente, audiência. Muita gente parava para acompanhar a rivalidade criada entre Val Marchori, Narcisa Tamborindeguy, Lydia Sayeg e Brunete Fraccaroli, mas, a julgar pelos comentários, poucos se deram conta da distância entre aquilo que elas enunciavam se dirigindo ao público e o que afirmavam em conversas com as colegas do programa.
As milionárias da primeira temporada passaram longe da Clínica do Real de Lacan. A julgar pelo que vimos, estão aquém de terem construído uma posição ética na qual as palavras tem consequência e, portanto, as ações devem coadunar com o que se diz. Por que, ao falar, parecem não se responsabilizar nem por suas ações nem por suas palavras? Por que não tentam diminuir a distância entre o que declaram e o que executam? Onde está o corpo delas quando elas falam?  Por que maltratam tanto a lógica e a língua portuguesa?
Analisemos. Primeiro episódio: Val Marchiori declara que, para ela, comprar um avião é igual a comprar uma blusa. Fim do episódio: A mesma Val Marchiori, que compra blusas a cada cinco minutos, tem que pedir autorização ao marido para comprar o avião. Ela parece não se dar conta da diferença. Outro exemplo. Ao torcer por seu time, Val Marchiori e Débora Rodrigues se entregam ao jogo, utilizando termos de baixo calão. Sequência: Fazendo-se de fina, Val afirma não gostar da utilização de termos chulos em estádios de futebol. Em suma, o que se vê é distância entre aquilo que se declara e o que se faz. A pessoa não se escuta.
Será que as aulas de redação foram retiradas do currículo das ricaças? Ao ensinar um aluno a escrever, frisamos que um texto deve ser coerente e coeso. Insistimos que, para ter coerência, um texto necessita de continuidade temática e argumentativa. Dizemos, ainda, que o critério de não contradição é fundamental para que um texto possa circular e ser aceito pelos seus leitores nos círculos intelectuais. Esta regra se aplica mesmo no caso de sequências orais.
Voltemos a Val Marchiori, aqui tomada como exemplo paradigmático de padrão de fala de suas colegas de Mulheres Ricas. Se os professores buscam exemplos de incoerência e de inconsistência, é muito fácil: basta gravar o programa! Em cinco minutos as milionárias estão refutando o que afirmaram, ou pior, contradizendo seus argumentos iniciais.
Até quando sustentaremos esse abismo entre nossas “mulheres ricas” e as elites intelectuais brasileiras? Enquanto as últimas não vencerem seu puritanismo e insistirem em viver de modo empobrecido e as primeiras mantiverem a preguiça de pensar e a falta de coerência, o cenário é sombrio.