A experiência do IPLA no atendimento online 12/11/2020

Teresa Genesini

À iniciativa do psicanalista Jorge Forbes e da geneticista Mayana Zatz, uma parceria entre Genética e Psicanálise, resultou, em 2006, na criação da Clínica de Psicanálise do Centro de Pesquisa sobre o Genoma Humano e Células-Tronco – USP, ligada ao Instituto da Psicanálise Lacaniana – IPLA. Essa clínica atende pacientes afetados por doenças neuromusculares de origem genética e seus familiares. Porém, notamos que dificuldades socioeconômicas e a falta de acessibilidade do sistema de transporte público brasileiro representavam grandes obstáculos para o deslocamento de pacientes portadores de deficiência física, impedindo a continuidade do tratamento psicanalítico. Assim nasceu a pesquisa de atendimento por Skype, em 2013, numa tentativa de contornar este problema.

Analisamos nessa pesquisa o efeito do uso de Skype como alternativa ao setting psicanalítico tradicional, que exige a presença física do paciente e do analista, assim como a eficácia do uso desse dispositivo e do manejo da transferência. Nove entre dez pacientes, tratados experimentalmente com esta abordagem, afirmaram preferir a alternativa de sessão por Skype para não interromper o tratamento. Após 15 semanas de atendimento, retornaram à clínica para uma entrevista com Jorge Forbes e Mayana Zatz, com o objetivo de verificar até que ponto eles foram beneficiados com o tratamento. Os resultados mostraram que o tratamento psicanalítico por Skype foi efetivo e ajudou esses pacientes a lidarem com seu acaso de forma criativa e responsável.

Esse trabalho foi apresentado no 19th International Congress of World Muscle Society, de 7 a 11 de outubro de 2014, em Berlim, e destacou-se por duas inovações: incluir a ética da Psicanálise e uso de tecnologias numa área tradicionalmente avessa a essas situações. Lembro que nessa época o atendimento online não era permitido pelo CRP, nem pelo CRM.

Desde então já atendemos mais de 200 pessoas, entre pacientes portadores de algum tipo de distúrbio neuromuscular e seus familiares, grande parte de forma remota, usando Skype, WhatsApp com vídeo ou outro aplicativo, tipo zoom. Os pacientes passam por entrevistas de retorno com Forbes e Mayana a cada três meses e a direção do tratamento é reorientada a cada vez.

Em 2017 fizemos outra pesquisa para saber se os efeitos de análise se manteriam a longo prazo. E a conclusão desse trabalho apresentado no 22º Congresso Internacional da World Muscle Society, em Saint Malo – França, nesse mesmo ano, foi que apesar da progressão da doença, os efeitos do tratamento psicanalítico estavam presentes e fizeram diferença na vida das pessoas.

Enfim, a mudança do setting analítico na clínica foi bem-vinda, a psicanálise funciona, mas novas perguntas se abrem. Continuemos.

Teresa Genesini é psicanalista; diretora superintendente do IPLA.