Por Alain Mouzat
A exposição “O Triunfo da cor: o pós impressionismo” no Centro cultural Banco do Brasil – obras-primas do Musée d’Orsay e do Musée de l’Orangerie de Paris – está disponível até 7 de julho
A semana está invadida pela arte: exposições de Picasso no Tomie Otake (ver a visita à exposição guiada por Leila Lagonegro, em Sociedade), dos impressionistas, pointillistas e nabis reunidos em “O Triunfo da cor” no Centro Cultural do Banco do Brasil (imperdível!), e o falecimento de um dos mais importantes artistas contemporâneos, Tunga.
Voltei de manhã à exposição do Triunfo da Cor, de manhã cedo, esperando aproveitar melhor salas sem filas na frente dos quadros. Tinha me esquecido das escolas! A concorrência é desigual, não dá para competir. Tive que visitar tentando escapar do arrastão artístico das hordas de adolescentes e crianças.
Por que levam escolas nas exposições? Parece que a instituição está encarregada de fornecer o que os pais não dão: o acesso à cultura. Interessante ver as diversas competências dos acompanhantes, às vezes um monitor descolado, outra uma guia erudita e precisa cativando seu auditório com maestria, ou um professor mandando todo mundo olhar em silêncio… e as crianças cativadas, ou conversando rindo, ou registrando no telefone, mas no geral aproveitando cada uma ao seu contento.
O que aproveitam?
A arte escapa à explicação. Mas por que ficamos capturados por um quadro? “É bonito” não serve. “Bonito” não diz da singularidade de minha experiência, bonito remete ao convencional do cartão postal do pôr do sol. Evidentemente, o pôr do sol é bonito, para cada um de todos nós. Mas a palavra “bonito” reduz a minha experiência inefável ao comum? Ora, isso jamais!
No entanto, é isso mesmo: aqueles quadros que fazem parte da cultura de base, do consenso do que é arte, nesse sentido elevado que remete à sublimação dessexualizada das pulsões, como queria Freud, aqueles quadros de Seurat, Gauguin, Monet, Toulouse-Lautrec, Odilon Redon, são bonitos. Perderam a força do impacto que presidiu à sua criação: não são mais afirmações violentas de uma marca subjetiva singular que tenta se fazer reconhecer sem concessões ao status quo mundano. Mas são bonitos.
Como entender que a obra do artista captura um olhar? Mesmo quadros tão decorativos como os motivos de Odilon Redon não são “bonitos” da mesma forma que um cartão postal de pôr do sol. Têm uma eficiência que talvez esteja mascarada pelo fato de a obra ter sido integrada à “cultura” obrigatória e até escolar…
Mas quem diz que a escola não pode constituir uma porta para a experiência da arte?
Alain Mouzat é professor da Universidade de São Paulo, doutor em linguística, psicanalista e membro do Instituto da Psicanálise Lacaniana.
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