Por Arlete Schinazi
Texto apresentado no Curso Intermediário de Freud a Lacan, no IPLA – junho 2016
Freud conceituou o sintoma escutando as queixas de suas pacientes. Era um olhar médico, curioso. Concluiu que o sintoma não era sinal de uma doença, e sim, a expressão particular de um conflito psíquico. O sintoma ganhou o estatuto de formação do inconsciente, assim como os sonhos e os esquecimentos. Como uma mensagem inconsciente a ser decifrada, podia ser interpretado e curado.
O sintoma, para Freud, tinha sempre um sentido inconsciente, relacionado às experiências ligadas à sexualidade e sustentado pelas fantasias infantis. Era uma expressão disfarçada do desejo. Um modo substituto de satisfazer a pulsão. Paradoxal em sua manifestação, pois ao mesmo tempo em que gerava sofrimento, trazia satisfação. “Nas neuroses, são as pulsões sexuais que sucumbem ao recalque e constituem assim a base mais importante para a gênese dos sintomas, que podem, por conseguinte, ser encarados como substitutos de satisfações sexuais.” Freud em 1911, Sobre a Psicanálise.
Uma formação de compromisso, entre a pulsão recalcada e as forças repressoras defensivas. O sintoma é algo que se repete e que muitas vezes a pessoa não consegue sair dele sozinha, queixa-se de algo causador de sofrimento, porém sente-se ligada a ele, “é mais forte do que eu”.
Para Freud, os sintomas têm sentido e se relacionam diretamente com a vida do sujeito que o produz. No caso das histéricas, elas sofriam de reminiscências, recalcavam a ideia e viviam no corpo um afeto inconciliável. O desejo ganhava sua marca de insatisfação. No neurótico obsessivo, por sua vez, os sintomas estavam relacionados com a esfera mental. O obsessivo recalca o afeto e o desloca para o pensamento, expresso na dúvida e indecisão, na impossibilidade de realização.
A visada que a psicanálise dá no trabalho com o sintoma determina sua ética. Freud ao encontrar-se diante da histérica, verificou que ela fazia do corpo porta voz de um sofrimento. Descobriu que adoecemos das palavras e podemos nos tratar por meio delas também. Legitimou um tratamento para a angústia e os sintomas pela via da palavra que toca o corpo e o constitui como um corpo libidinal.
Arlete Schinazi é psicóloga e membro do Corpo de Formação do IPLA.