A Clínica do Real e a escolha da escola 06/12/2012

Por Claudia Riolfi

Decisões sobre nossa vida precisam se ancorar em nosso desejo e não em nossas supostas comodidades

Diga-me como alguém escolheu sua escola e eu lhe direi qual é a sua chance de ele ter uma experiência escolar boa ou medíocre. Alunos cuja vivência escolar é empobrecida  selecionaram sua escola pela lógica da necessidade. Pautaram-se no preço, na distância, na comodidade do transporte… Agiram como se a educação fosse um produto disponível no mercado e a vida se resumisse a uma questão de comparar preços. Esqueceram de que, quando se trata do humano, há sempre um elemento imponderável.
Aí é que a porca torce o rabo. É evidente que pressões econômicas existem. Não precisam ser escamoteadas. Podem ser tratadas, inclusive, com crianças pequenas. Os pais podem lhe ajudar a mensurar os prós e os contras de algumas opções, dizendo, por exemplo: se nós pagarmos a mensalidade da escola “A”, vamos ter que cortar algumas idas ao restaurante “B”.
Entretanto, mesmo no caso de filhos menores, se não desejarem passar o resto de suas vidas procurando programas compensatórios (como aulas particulares), não podem obrigá-los a viver uma vida que não lhes pertence. Quem adota uma escola com ideais de aluguel não consegue manter seu entusiasmo por tempo suficiente até que chegue a aprender qualquer coisa que se sustente.
Posto isto, olhemos o outro lado, o dos alunos que têm uma experiência escolar enriquecida. Atenção, não estou me referindo, necessariamente, aos alunos considerados excelentes do ponto de vista dos adultos, mas sim, àqueles que inovam, que conseguem se servir do conhecimento articulado para inventar sua singularidade.
Quando olhamos como eles escolheram suas escolas, vemos que esta seleção foi feita pela lógica do desejo. Este elemento imponderável foi considerado no momento da decisão. Às vezes, até ficaram com a “pior opção” em termos de comodidade da família, mas, ao fazê-lo, ganharam uma vida qualificada.
Para tornar esta reflexão mais concreta, apresentamos uma lista de perguntas que podem servir como ponto de partida para cada qual buscar se aproximar, o máximo possível, de seu desejo:

Antes de selecionar as escolas:

1. Como eu me enxergo daqui a vinte anos? Que faixa de renda desejo ter?
2. Para facilitar esta conquista, pretendo seguir uma profissão que exige uma boa formação básica?
3. Que tipo de escola tornaria mais fácil a concretização de meus anseios? Eu preciso investir meu tempo em uma escola considerada “difícil”?
4. Existem, na minha vida, coisas das quais não abro mão, como, por exemplo, uma religião, ou uma orientação sexual diferenciada?
5. Para mim, é importante ter estudado em uma escola com um bom reconhecimento social? Eu me importaria em, mais tarde, declarar que estudei em uma escola sem fama?

Depois de ter uma escola “X” em mente, ao examinar seu material de divulgação:

1. As imagens escolhidas pelos responsáveis pela divulgação pela escola me atraem? Mostram pessoas que eu julgo simpáticas?
2. Eu consigo entender o projeto pedagógico da escola? Identifico-me com o modo como ele foi exposto?
3. A linguagem utilizada para falar da escola me toca? Eu teria escolhido palavras parecidas com estas caso tivesse feito este material?
4. Ao tomar conhecimento do projeto da escola, eu me sinto convidado a fazer parte dele? Ele me instiga?

Durante a visita à escola:

1. Eu consigo respirar neste ambiente? Há luz, ar, silêncio e espaço na medida em que necessito?
2. Eu me senti atraído por alguma atividade da qual tomei conhecimento, como, por exemplo, projetos especiais, grupos de teatro, aulas extracurriculares etc.?
3. Eu conseguiria conviver de modo relativamente harmonioso com o público alvo que esta escola atrai? Posso me imaginar conversando prazerosamente com alguém que estuda aqui?
4. Os professores que eu estou vendo parecem ser do tipo de profissionais que podem me ajudar a encontrar (ou a renovar) a paixão pelo conhecimento?
5. Fiquei curioso com o que vi? Ao deixar o ambiente, a impressão geral foi a de que valeria a pena voltar para ver mais?