Por Enio Sugiyama Junior*
O percurso realizado por um aluno da USP pode ensinar o preço a ser pago pelas escolhas de quem quer estudar
Na semana que vem, ocorre a segunda fase da FUVEST, o vestibular mais concorrido do Brasil, no qual 160.000 candidatos disputam uma vaga na Universidade de São Paulo. Em uma época em que, aparentemente, os jovens não se deixam seduzir pelas grandes narrativas, por que eles não deixam de fazer o esforço hercúleo necessário para conquistar sua vaga?
“USP é USP”, esse era o argumento que, com certa soberba, eu utilizava para justificar minha escolha. Aos 17 anos, pouco dinheiro no bolso e sozinho, era um pouco exótico junto aos meus pares o fato de eu ter optado por essa instituição ao invés das outras, nas quais, eu sabia, a vida seria “mais tranquila”. Mal sabia eu que a parte mais fácil seria passar no vestibular.
Não foi necessária uma semana de aula para eu perceber que a aprovação na FUVEST não era garantia de sossego. O menino que pedia aos seus professores para refazer a prova quando não tirava “A parabéns” agora tinha que estudar muito para alcançar média 5,0. Do máximo, eu passei para apenas sofrível. Eu nem sabia da Clínica do Real, mas perdi o chão. Vi muitos colegas não suportarem a angústia gerada pela quebra do narcisismo. Desistiam do curso logo no primeiro ano.
Dos que sobrevivem a esse primeiro desafio, acredito que podemos dividir dois grandes grupos. O primeiro é formado por aqueles que aprendem as regras do jogo e se tornam mascarados. Se fazem parte de grupos de pesquisa, por exemplo, querem, antes de tudo, saber o que está na moda. São genéricos. O segundo é o time que emprestou carne ao “USP é USP”. Entenderam esta frase na mesma direção em que Lacan explica: o primeiro “USP” designa um lugar, o segundo, por sua vez, aponta para o valor afetivo com o qual a pessoa investe a instituição. Os estudantes desse grupo sabem que não basta entrar ou sair da Universidade de São Paulo para aprender a se servir do universal do conhecimento. As atitudes desses sujeitos frente à vida acadêmica também fazem toda a diferença.
Aquele que decidiu se responsabilizar pela sua formação pode abrir mão das imagens que constituem sua identidade na medida em que encontrou outras instâncias nas quais se amarrar. Neste contexto, ganha destaque a invenção de uma causa que possibilite a esse sujeito “por de si”, como sugere Lacan na abertura de seus Escritos, não só na leitura do texto da psicanálise como, também, em toda e qualquer leitura que fizer ao longo de sua vida.
Sem este gesto, a USP não é a USP. Mesmo quando se trata de uma instituição reconhecida, mesmo quando o aluno está sob a tutela de pessoas consideradas sumidades no assunto que deseja estudar, aquele que é inserido em um sistema educacional não pode esperar que sua formação aconteça automaticamente. É preciso escolher. É preciso, acima de tudo, sustentar essas escolhas, responsabilizando-se por seus frutos.
E aí, você que me lê: vai mesmo encarar a segunda fase da FUVEST?
*Graduado e mestre pela USP