Por Liége Lise
Os contos de fadas dão margem para podermos nos identificar em situações de dor e alegria. Assim, a chegada de uma criança em uma família reforça a aposta na vida
O Brasil ocupa o número um nas estatísticas de partos por cesariana no mundo. Diferente dessa tendência nacional, a escolha da duquesa de Cambridge, Kate Middleton, foi pelo parto normal. Ela também irá aleitar seu filho contrariando o costume real dos bebês serem amamentados por amas de leite. Se, por um lado, Kate responde aos protocolos da tradição da coroa, por outro privilegia o afeto e a construção do vínculo com seu filho.
George Alexander Louis, o filho de Kate e do príncipe William, nasceu em 22 de julho de 2013 no hospital St. Mary’s, Londres. O suspense acerca do nome, estratégia de marketing, durou dois dias e contribuiu para a áurea de curiosidade e frisson em torno da chegada do príncipe herdeiro, terceiro na sucessão direta do reino britânico. A notícia alcançou o topo do ranking na mídia mundial.
Seria porque tal evento nos toca na ilusão de que em um lugar, que não a Terra do Nunca ou num reino não tão distante, o mundo dos contos de fadas ainda encontra um correlato na nossa realidade não tão dourada?
Ou ainda, seria pelo apelo que tal nascimento provoca nos tempos em que a tradição perde seu peso?
Os contos de fadas, que desde a mais tenra infância são alimento para nossos sonhos e fantasias, dão margem para que nos identifiquemos em situações de dor, desolação, esperança e alegria. Em cada família, a chegada de uma criança reporta à cena de “sua majestade o bebê”.
O nascimento de uma criança, seja ela de linhagem real ou plebeia, aristocrata ou popular, é uma aposta na vida. Talvez porque remeta cada um ao ponto do amor, àquele mais íntimo e próximo por quem vale empenhar o sagrado ofício de viver. Por um filho empenhamos a própria pele. Por um filho sonhamos um futuro, renovados nas nossas expectativas. É uma aposta no novo. É uma aposta que o mundo pode ser ainda melhor. E será!
Liége Lise é psicanalista. Atende na Clínica de Psicanálise do Centro de Estudos do Genoma Humano – USP-SP. É membro do IPLA- Instituto da Psicanálise Lacaniana- SP