A amante do PR 06/12/2012

Por Alain Mouzat

No caso Rosegate, invocar a proteção da privacidade para ficar em silêncio é uma atitude cínica. Afinal, o affair do ex-presidente e da chefe de gabinete se tornou famoso não por uma indiscrição da imprensa, mas sim por um extenso inquérito policial
A figura da mulher que provoca um escândalo político com suas aventuras extraconjugais novamente faz escárnio da nação. Poderosa, detentora de informações capazes de corar até mesmo os não puritanos, Rosemay Noronha emerge como uma personificação da “boca da verdade”; mesmo calada, ela nos mostra um buraco onde todos temem colocar a mão.
O silêncio que acompanha as “revelações” de seu caso amoroso com o ex-presidente da República – a quem ela chamava de “PR” –  não deixa de suscitar as mais diferentes interpretações. Fofoca e subentendidos são inevitáveis, fazem parte de um senso comum partilhado, como a piada.
Os jornais permanecem discretos. Não ceder à fofoca, sem dúvida, honra as melhores tradições da imprensa – que, no entanto, já se mostrou bem menos delicada quando figuras “não poderosas” estão sob os holofotes.
Do lado do PR, invocar a proteção da “vida privada” para permanecer em silêncio parece uma atitude cínica, de certa forma. Afinal, se o affair ganhou alguma importância, não foi por indiscrição jornalística, mas sim por um extenso inquérito policial.
 O “não se explique, não se justifique”, tão citado por Jorge Forbes, pode tanto se referir ao cinismo invocado em nome do pragmatismo, quanto à responsabilidade de quem não recua frente a seu desejo.
O que faz a diferença são as consequências que cada um assume ao usar a frase.